domingo, 9 de agosto de 2015

Meu pai e o futebol

  Na infância, meu pai não gostava de futebol. Não se interessava em jogar bola e se estivesse passando uma partida na televisão, rapidamente mudava de canal. Na escola, quando era obrigado a jogar, era sempre um dos últimos a ser escolhido para compor o time. Tentava evitar que a bola passasse por ele e, se passasse,  tocava-a rápido para não se complicar. Ele e a bola não tinham muita intimidade, e esse esporte estava longe de ser um dos seus preferidos.

  O tempo passou, e meu pai conheceu minha mãe, atleticana fanática. Foi inevitável, para se casar com ela, teria que se tornar atleticano. De qualquer forma, o sentimento pelo futebol continuou o mesmo e somente a paixão pela minha mãe o fez ter um time para realmente torcer.

  Começou a assistir a alguns jogos, mas apenas para acompanhar minha mãe. O desinteresse era tanto que, quando lia jornal, nunca passava o olho na página de esportes, que era a primeira a ir para o lixo.

  Então, eu nasci e tudo mudou. Desde bebê, o meu amor pelo futebol era notório. A bola sempre foi minha melhor amiga e eu assistia jogos mesmo sem entender direito o que acontecia. Gol foi uma das primeiras palavras do meu vocabulário e depois que eu aprendi a andar, já arriscava meus primeiros chutes. Não tinha jeito, o futebol estava no meu sangue, e meu pai teria que se adaptar.

  Um ano e meio depois, meu irmão nasceu. E o problema entre meu pai e o futebol dobrou. Desde pequeno, jogávamos bola e assistíamos partidas o dia inteiro. Para se entender com a gente, meu pai teria que entrar de vez no esporte. E foi o que ele fez.

  Nos fins de semana, íamos jogar futebol na quadra do prédio, e meu pai nos acompanhava. Não o deixávamos apenas assistir, então a solução foi comprar uma chuteira e começar a jogar conosco. Ele tinha dificuldade em se entender com a bola, mas se esforçava. Às vezes, se machucava em lances inusitados, como no dia em que chutou a trave, mas sempre voltava a jogar com o ânimo de sempre.

  Do jogo de futebol no vídeo game, ele também não ficou de fora. Até tentava, mas eu e meu irmão éramos viciados e o goleávamos. Admito que, de vez em quando, ele ganhava, só que mal sabia que o espirito solidário dos filhos que o permitia alcançar tal feito.

  Nas várias vertentes do futebol, o clube do coração ocupa o lugar mais alto. Logo, meu pai, acima de tudo, teve que se tornar um atleticano de verdade. Assistir a todos os jogos, ir ao estádio sempre que possível e acompanhar o dia-a-dia do clube tiveram que se tornar práticas rotineiras. A camisa do galo deveria ser seu segundo manto e o nome dos jogadores tinham que estar sempre na memória. O começo foi difícil, mas ele se esforçou muito. Estudou a história do clube e até comprou um livro para entender todas as regras do esporte bretão.

  Hoje, meu pai é atleticano fanático. Quem passa a conhecê-lo agora, duvida desse seu passado. E quem já o conhecia há mais tempo, se impressiona com a mudança. Ele tem mais blusas do Galo do que eu e, às vezes, me conta notícias do time que não sabia. Curiosamente, a página de esportes do jornal se tornou uma de suas preferidas. Até loucuras pelo Atlético já fez, uma vez que as viagens para a final da Libertadores no Paraguai e Mundial no Marrocos, não me deixam mentir.

  Ah, o futebol... São ingênuas as pessoas que pensam que é só um esporte. Na verdade, é muito mais que isso. É uma paixão que nos ensina as lições mais valiosas para a vida. É uma herança dos antepassados que nos faz esquecer as diferenças e apenas nos divertir. Pode ser a coisa mais importante das menos importantes que existem, mas com certeza tem um significado especial na vida de cada indivíduo.


  Agradeço ao futebol por permitir que eu vivesse muitos momentos inesquecíveis com meu pai. E agradeço ao meu pai, uma pessoa incrível, por sempre tentar se adaptar ao modo de vida dos filhos apenas para agradá-los.

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