quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O eterno retorno

  Dia 23 de novembro de 2016. A Chapecoense faz história. Danilo, o goleiro salvador, defende um chute no último lance, levando o time de Chapecó à final da Copa Sulamericana. Um momento mágico, inesquecível. A torcida, que lotou a Arena Condá, comemora, entre choros e sorrisos. O time, em uma união inexorável, se abraça e corre pelo gramado, tomado por uma alegria que parecia inabalável.


  Dia 29 de novembro de 2016. O mundo entra em choque. O avião, que levava o time da Chapecoense para a primeira partida da decisão na Colômbia, cai. 71 mortos, entre comissão técnica, jogadores, tripulantes e jornalistas. A equipe alviverde, que vivia o melhor momento da sua trajetória, se desestrutura por completo. Tudo o que passou parecia ter sido em vão.



  Em uma semana, a vida ratifica sua efemeridade. E nós, que acompanhamos essa história, ficamos sem reação, tentando entender o inexplicável. Mas, talvez, Nietzsche explique.

  Para o filósofo, devemos viver a vida de maneira intensa e longe das imposições morais. Não obstante, é essencial que imaginemos que viveríamos para sempre o momento que estamos passando. Viveríamos mais uma vez, e incontáveis vezes, cada dor, cada suspiro, cada prazer. O chamado eterno retorno.

  Imaginemos que essa pergunta fosse feita para o time de Santa Catarina, no dia 26 de novembro de 2016, no instante em que a memorável classificação fora ratificada.

 - Vocês viveriam este momento infinitas vezes? Passariam todas as emoções novamente, do sofrimento à felicidade, e todas as outras que essa escolha implicaria?

  - Sim! - Sem dúvida, diriam todos. Não à toa, no fim daquele dia, o técnico Caio Júnior afirmara que, após a conquista alcançada, se fosse morrer, morreria feliz.

   E se o Danilo não tivesse defendido aquele chute? E se o time não fosse para a final?

  Após aquela partida, o goleiro  recebeu o rótulo de herói, que foi rapidamente recusado. “Herói não, ninguém vence uma guerra sozinho. [...] A união do grupo mostrou mais uma vez que vence.”

  Logo, nada foi em vão. A união inexorável se manteve, apesar das circunstâncias. O esporte fica abalado, instável, mas ganha um grupo vencedor. Uma equipe de heróis que nos mostra que a vida vale sim ser vivida, nos seus pequenos momentos, da felicidade completa ao sofrimento inexplicável.


  

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cazares: o homem virtuoso de Aristóteles

  O início do campeonato brasileiro do Atlético foi bastante irregular. Com três derrotas, quatro empates e apenas uma vitória, o clube mineiro chegou até a aparecer na zona de rebaixamento na oitava rodada. Daniel Nepomuceno, o presidente atleticano, reforçou o elenco com jogadores caros, como Fred e Robinho, e, por isso, ninguém imaginava que o time alvinegro chegaria nessa situação. Mesmo assim, eram várias as justificativas encontradas pelos torcedores para explicar esse momento periclitante. Dentre elas, uma era unânime: a ausência de Juan Cazares.

  O meia havia disputado apenas as duas primeiras rodadas e, depois disso, foi para os EUA, para disputar a Copa América com a seleção da sua terra natal, o Equador. Sua falta era muito sentida, até mesmo pelo técnico Marcelo Oliveira. De qualquer forma, uma dúvida pairava sobre a  cabeça de todos: seria o equatoriano a solução imediata para tirar o Galo dessa enrascada?

  "Isso só ocorreria de fato se fosse um homem virtuoso", diria Aristóteles. Um homem capaz de maximizar suas potencialidades e que seria coerente em seus atos. Afinal, só uma pessoa como essa cumpriria todas as expectativas postas sobre ela, uma vez que faria exatamente o que se espera dela.

  Cazares voltou e, após quatro rodadas, ratificou essa teoria. Com atuações exuberantes, especialmente contra o Botafogo, na décima segunda rodada, demonstrou toda a sua qualidade e excelência em construir e finalizar jogadas. Com ele, que participou diretamente de onze gols (6 gols e 5 assistências), o time se tornou outro, e as quatro vitórias seguidas alcançadas confirmam isso.

  O baixinho de 24 anos mostrou ser peça essencial para o Galo na busca por voos mais altos. Daqui para frente, terá que continuar jogando de forma magistral para corresponder toda a confiança depositada pela massa e para auxiliar o Galo a conquistar o tão sonhado bicampeonato. Nada que pareça tarefa complicada, ainda mais para um jovem rico de virtudes, como Juan Cazares. 




 


  

domingo, 6 de março de 2016

Robinho e o Galo: nem Freud explica


  Robson de Souza, mais conhecido como Robinho, nasceu em São Vicente, São Paulo, há mais de 32 anos. Desde novo, já apresentava qualidades exuberantes com a bola no pé e, por isso, rapidamente foi jogar nas categorias do Santos Futebol Clube. O garoto se destacava com dribles precisos e faro de gol e, no profissional, não foi diferente. Logo nos primeiros anos, ajudou o Santos a conquistar alguns títulos. Imediatamente, sua ida para a Europa se tornou inevitável.

  No continente europeu, fez fama em clubes poderosos, como Real Madrid, Manchester City e Milan e arrecadou cifras consideráveis. Sua performance se manteve em alto nível em grande parte do tempo e, assim, sua vaga na Seleção Brasileira era praticamente garantida. Com a camisa amarela, disputou Copas do Mundo e levantou troféus. Uma trajetória brilhante de um jogador que entrará para a história do seu país.

Robinho, nos tempos de Real Madrid, com a sua marca registrada: a alegria no rosto 

  Durante os mais de 10 anos na Europa, teve alguns momentos ruins, que se tornaram uma oportunidade para retornos triunfais ao clube do coração, o Santos, e para uma equipe na China, o que lhe rendeu um excelente montante.

  Em 2016, a carreira de Robinho tomou um rumo inesperado. Com o desejo de voltar ao Brasil, o retorno para o litoral paulista era dado como certo, mas o rei das pedaladas decidiu explorar um outro canto do país natal. O craque escolheu vestir o manto do Atlético-MG. Uma decisão surpreendente, ainda que a equipe de Minas Gerais tenha oferecido um salário mais alto.

  Seu discurso de apresentação  talvez ratifique isso. Ao afirmar que futebol hoje é negócio, o jogador possivelmente justificou por que escolheu o Galo. Mesmo assim, decidi investigar e refletir um pouco mais sobre o tema para entender os reais motivos dessa união. E cheguei a uma conclusão: essa relação nem Freud explica.

  Sigmund Freud nasceu no século XIX, formou-se em medicina e fez do estudo do comportamento humano a sua vida. Esforçado e curioso, estudou vários casos e promoveu várias teses. Tais teorias foram muito valorizadas pela sociedade com o tempo, e o título que recebeu de pai da psicanálise comprovam isso.

Freud, criador da psicanálise, mas que nunca conseguiu solucionar a seguinte questão: a relação entre Robinho e o Galo
  
  Uma das questões abordadas por Freud foi entender os traumas humanos. O seu método para investigá-los era a associação livre, que permitiria que ele obtivesse resultados mais precisos. Através dessa ferramenta, identificava os sintomas e, dessa maneira, poderia apurar a fundo os traumas sofridos.

  Robinho tinha o desejo de voltar a jogar no Brasil, mais precisamente no Atlético-MG. Um interesse intrínseco e sintomático, que precisava ser sanado imediatamente.

  E, pelo o que parece, um objetivo que, mesmo distante e inimaginável há alguns anos, teria que ser cumprido. Afinal, em 2006, no ano mais traumático da história do Atlético, ele gritava aos quatro ventos que, apesar de estar no seu ápice no time galáctico do Real Madrid, gostaria de vestir futuramente a camisa do time alvinegro de BH, para ter o nome gritado pelos fanáticos torcedores do clube.



  Hoje, no jogo contra a Tombense, válido pelo Campeonato Mineiro, Robinho mostrou sua sintonia com a massa e com as redes. Balançou o gol adversário em três oportunidades, deu dribles e até levou a bola para casa. Assim, levou a massa à loucura e mostrou o seu valor. Uma união que pode gerar muitos sorrisos e quiçá  títulos e prêmios individuais ao camisa 7.

  
  Se Freud explora tanto os sonhos em suas análises, não posso deixar de salientar esse ponto na minhas considerações. A relação do Robinho com o Atlético ignora traumas, mas possui sintomas diretamente ligados ao subconsciente do menino da vila. O sonho de um garoto de 22 anos está se tornando realidade, pois hoje o homem Robinho joga no Clube Atlético Mineiro.